Tratamento do glaucoma crônico em equino por meio de ablação química com gentamicina. (Portuguese)

O glaucoma consiste em um grupo de doenças causadas por uma série de alterações intraoculares, culminando na elevação da pressão intraocular (PIO). Valores acima de 30 mmHg desencadeiam dano ao nervo óptico e, consequentemente, perda visual. Embora a prevalência dessa doença seja baixa em equinos, quando comparada a cães e humanos, fatores como traumas oculares, perfurações corneanas e episódios de uveíte recorrente equina (URE) estão entre as condições que predispõem à síndrome glaucomatosa. As manifestações clínicas do glaucoma equino incluem sinais típicos de inflamação e respondem pobremente ao tratamento clínico, com prognóstico ruim, no que se refere à manutenção da visão. Nos casos não responsivos a colírios antiglaucomatosos, a enucleação ou ablação química do corpo ciliar são indicadas. A ablação química é um procedimento cirúrgico de rápida realização na qual se aplica gentamicina intravítrea, cujo objetivo é causar atrofia do corpo ciliar e diminuir a produção de humor aquoso. A ablação é utilizada em casos em que já ocorreu a perda da visão e possui como objetivo diminuir a dor ocular, fazendo com que a terapia medicamentosa não seja mais necessária, sendo uma alternativa menos invasiva e impactante quando comparada à enucleação. Uma fêmea equina, de 3 anos de idade, da raça Quarto de Milha, foi encaminhada ao Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel" para consulta oftalmológica. O tutor relatou que a paciente mantinha o olho direito frequentemente fechado e com aparência esbranquiçada. Não soube relatar o histórico ou a possível causa do problema. O exame oftálmico abrangeu o teste de produção lacrimal de Schirmer, biomicroscopia com lâmpada em fenda, tonometria de rebote, gonioscopia, oftalmoscopia indireta e a prova de tingimento pela fluoresceína. Notou-se, no olho direito, presença de blefaroespasmo e ausência de reflexo fotomotor, edema palpebral, edema de córnea, úlcera de córnea com neovascularização, abcesso estromal e aumento da pressão intraocular (olho direito = 68 mmHg, olho esquerdo = 26 mmHg) caracterizando um quadro de glaucoma crônico secundário. Realizou-se, primeiramente, o tratamento conservativo com soro equino autólogo (0,1 ml, q4h por 30 dias), EDTA a 0,35% (0,1 ml, q4h por 30 dias), cefazolina (0,1 ml, q6h por 30 dias), anfotericina B (0,1 ml, q4h por 30 dias), gentamicina (0,1 ml, q6h por 30 dias) e colírio de associação de brinzolamida e timolol (0,1 ml, q8h por 30 dias). Apesar da melhora nos sinais clínicos, não houve diminuição da PIO, sendo indicada a ablação química do corpo ciliar. A paciente foi sedada utilizando protocolo de infusão contínua de detomidina (0,02 mg/kg/h, IV), além de bloqueio local do nervo supraorbitário e auriculopalpebral com lidocaína sem vasoconstritor a 2%. Após antissepsia ocular, procedimento que utilizou iodo diluído na proporção 1:50, a esclera foi exposta dorsalmente, e uma agulha 40 x 12 foi inserida a 6 mm do limbo esclerocorneal, sendo, inicialmente, retirado 1,5 ml de humor vítreo (olho direito) e, logo em seguida, aplicada a associação de 0,7 ml de gentamicina (2 mg) e 0,3 ml de dexametasona (1 mg). No procedimento subsequente, foram administrados anti-inflamatório sistêmico (flunixim meglumine, 0,5 mg/kg, q24h por três dias) e antibiótico local (0,1 ml de gatifloxacino 0,3% suspensão oftálmica, q8h por 10 dias). A reavaliação foi realizada vinte dias após o procedimento cirúrgico, na qual observou-se ausência de blefaroespasmo, hiperemia leve e redução do volume do bulbo ocular, detectando-se uma PIO de 13 mmHg. Conclui-se que o procedimento reduziu significativamente a dor relacionada ao aumento da PIO, no entanto, ocorreu um aumento na opacidade corneana, bem como Phitisis bulbi (atrofia do olho). A ablação química demonstrou ser útil no tratamento do glaucoma crônico, revelando-se como uma alternativa viável, tanto estética quanto economicamente, à enucleação. [ABSTRACT FROM AUTHOR]

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