O impacto do trabalho por turnos na profissão de enfermagem, nos níveis de ansiedade e depressão e a suarelação com a qualidade do sono
2020
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Tese de mestrado, Psicopatologia, Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina, 2020
Introdução: A prática de enfermagem obriga a um trabalho contínuo, prolongando-se pelas 24 horas do dia, o que condiciona a forma de trabalho por turnos, conduzindo a alterações do ritmo circadiano e do padrão do sono. Assim, o trabalho por turnos representa um fator de risco físico, psicológico e social para a saúde dos enfermeiros, o que poderá prejudicar a qualidade dos cuidados prestados. A alteração do ritmo circadiano está na base do aumento da prevalência da diminuição da qualidade do sono, bem como do aumento de risco para o aparecimento dos sintomas de ansiedade e depressão, pelo que se considerou pertinente estudar a relação entre a qualidade do sono, ansiedade e depressão numa amostra de enfermeiros. Métodos: Para a realização do estudo, recorreu-se a uma amostra não probabilística, por con- veniência, de 126 enfermeiros, em que 63 dos enfermeiros trabalhavam por turnos e os outros 63 enfermeiros trabalhavam em regime de horário fixo - maioritariamente, composta por mulheres, cerca de 88,10%, e predominando no grupo etário entre os 30 e 40 anos. Para caracterizar em termos soci- odemográficos a amostra e avaliar a qualidade do sono, os sintomas depressivos e de ansiedade, apli- caram-se diferentes instrumentos de avaliação e colheita de dados, nomeadamente: o Índice de Qua- lidade do Sono de Pittsburgh (PSQI), a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD), a Escala de Sonolência de Epworth (ESE) e um questionário sociodemográfico. Resultados: A maioria dos enfermeiros inquiridos apresentou má qualidade do sono. Assim, no Grupo de enfermeiros que trabalha por turnos (GTT), a média no PSQI é de 7,1 (79,4% dos parti- cipantes) e no Grupo de enfermeiros que trabalha em regime fixo - Grupo de Controlo (GC), a média obtida foi de 6,6 (cerca de 69,8% dos participantes). No GC, pior qualidade do sono está associada à idade (rs=0,22; p=0,042), tempo de profissão (rs=0,225; p=0,039), carga horária dos estudos (rs=0,227; p=0,037), patologias psiquiátricas (rs=0,064; p=0,009) e uso de medicação para dormir (rs=0,299; p=0,018). Salienta-se que a melhor qualidade do sono está associada ao número de filhos (rs=-0,210; p=0,049) e ao nível de energia ao acordar (rs=-0,366; p=0,002). De igual modo, nos par- ticipantes do GTT, constatou-se que estudar está correlacionado negativamente com a qualidade do sono (rs=-0,287; p= 0,023), enquanto tomar medicação para dormir está associado positivamente (rs=0,265; p=0,037). Quanto aos níveis de ansiedade e depressão, não se verificaram diferenças esta- tisticamente significativas entre grupos (p=0,439 e p=0,413) - na escala de HAD, a média da ansie- dade, no GTT foi de 6,7 e no GC de 7. No GTT, níveis de ansiedade elevados estão associados às variáveis dias de trabalho semanal (rs=0,121; p=0,047) e carga horária dos estudos (rs=0,251; p=0,047); por outro lado, maior tempo de trabalho por turnos (rs=-0,206; p=0,040) e níveis de energia ao acordar mais elevados (rs=-0,480; p=0,001) corresponderam a menores níveis de ansiedade. No GC, maiores níveis de energia ao acordar estão associados a menores níveis de ansiedade e depressão (rs=-0,445; p=0,000 e rs=-0,324; p=0,010). Em relação aos níveis de depressão, segundo a escala de HAD, a média de depressão, no GTT foi de 4,7 e de 5,2 no GC. No GTT, verificou-se uma associação positiva dos níveis de depressão com as variáveis, dias de trabalho semanal (rs=0,271; p=0,032), estudos (rs=0,287; p=0,022) e nível de energia ao acordar (rs=-0,567; p=0,000). Em relação à sonolência diurna, apuraram-se diferenças estatisticamente significativas entre grupos (p= 0,032), tendo o GTT apresentado maior sonolência diurna (49,2% dos participantes) com- parativamente com o GC (47,6% dos participantes). Assim, a partir dos resultados obtidos, observou- se que, no GTT, a sonolência diurna apresentou uma associação negativa com as variáveis idade (rs=- 0,243; p=0,027), tempo de profissão em enfermagem (rs=-0,313; p=0,007), tempo de trabalho por turnos (rs=-0,321; p=0,005), carga horária dos estudos (rs=-0,291; p=0,010) e nível de energia ao acordar (rs=-0,447; p=0,000). Por outro lado, verificou-se uma relação positiva com o uso de medi- cação para dormir (rs=0,043; p=0,037). No GC, a sonolência diurna apresentou uma relação negativa com o nível de energia ao acordar (rs=-0,366; p=0,002). Conclusão: Neste estudo não se verificaram diferenças significativas na qualidade do sono, níveis de ansiedade e depressão entre os enfermeiros que trabalham por turnos e os enfermeiros que trabalham em regime de horário fixo. A maioria dos participantes deste estudo têm uma má qualidade do sono. Por este motivo, é necessário intervir quer a nível individual, quer ao nível organizacional, de modo a que sejam adotadas medidas que visem melhorar a qualidade do sono dos enfermeiros. Importa ainda sensibilizar a adoção de estratégias adequadas de higiene do sono, promovendo hábitos de vida saudáveis, tendo em vista melhorar a qualidade de vida dos enfermeiros, o que se traduz também num benefício nos cuidados de saúde prestados aos utentes.
Introduction: Nursing requires continuous work and shifts that extend 24 hours, consequently changing the circadian rhythm and sleeping pattern. Work shifts involve physical, psychological and social risk factors for the nurses, threatening their work quality. The alteration of the circadian rhythm is a cause associated to the deterioration of the sleep quality and symptoms of anxiety and depression. The aim of this research is to relate the consequences of working in shifts in regard to sleep quality, anxiety and depression levels of the sample population. Methods: A convenience (non-probability) sample was obtained surveying 126 nurses, 63 of which worked in shifts and the remaining 63 on a regular fixed schedule, predominantly composed by women (88,10%) between 30-40 years old. A survey questionnaire with the Pittsburgh Sleep Quality Index scale (PSQI), Hospital Anxiety and Depression Scale (HAD), Epworth Sleepiness scale (ESE) and a sociodemographic questionnaire were conducted to evaluate sleep quality and levels of depression and anxiety. Results: Most of the researched nurses present a low quality of sleep regardless of their schedule type, with an average of 7,1 on the PSQI of the WSG (Work Shifts Group) - 79,4% of the research group - and 6,6 on the CG (Control Group) - 69,8%. In the control group, sleep quality decreased with age (rs=0,22; p=0,042), career length (rs=0,225; p=0,039), education workload (rs=0,227; p=0,037), psychiatric pathologies (rs=0,064; p=0,009) and sleeping medication (rs=0,299; p=0,018). Nevertheless, it was positively associated with the number of children (rs=-0,210; p=0,049) and waking energy level (rs=-0,366; p=0,002). In the WSG (Work Shifts Group), learning is negatively associated to sleep quality (rs=-0,287; p= 0,023) as opposed to sleep medication intake, which is positively associated (rs=0,265; p=0,037). Regarding the levels of anxiety and depression, the results between groups were statistically insignificant (p=0,439 e p=0,413) and in the HAD scale the average anxiety level in the WSG was 6,7 and in the CG (Control Group) it was 7. In the WSG, the weekly working days (rs=0,121; p=0,047) and education workload (rs=0,251; p=0,047) showed a positive correlation to the anxiety levels. On the other hand, work shifts load (rs=-0,206; p=0,040) and awakening energy levels (rs=-0,480; p=0,001) showed a negative correlation with anxiety. In the CG (Control Group) only the awakening energy level showed a negative correlation with the anxiety and depression levels (rs=-0,445; p=0,000 e rs=-0,324; p=0,010). Regarding depression levels, according to the HAD scale, the average depression level in the WSG (Work Shifts Group) was 4,7 and 5,2 in the CG (Control Group). In the WSG (Work Shifts Group) a positive correlation between the levels of depression with the weekly working days (rs=0,271; p=0,032), academic work (rs=0,287; p=0,022) and awakening energy (rs=-0,567; p=0,000) was uncovered. Concerning daytime somnolence, statistically significant differences between groups (p= 0,032) were exhibited. Participants in the WSG (Work Shifts Group) presented higher daytime somnolence (49,2%) as opposed to CG (Control Group) with a percentage of 47,6%. Therefore, from the results obtained it was observed that in the WSG (Work Shifts Group) daytime somnolence presented a negative correlation with the variables: age (rs=-0,243; p=0,027), nursing career length (rs=-0,313; p=0,007), work shifts length (rs=-0,321; p=0,005), education workload (rs=-0,291; p=0,010) and awakening energy level (rs=-0,447; p=0,000). On the other hand, sleeping medication intake showed a positive correlation (rs=0,043; p=0,037). In the CG (Control Group), daytime somnolence presented a negative correlation with the awakening energy level (rs=-0,366; p=0,002). Conclusion: This research could not verify significant differences in sleep quality, anxiety and depression levels among nurses that work in shifts or in regular fixed schedules. Overall the studied population has bad sleep quality. Both individual and institutional measures are necessary to improve nurses sleep quality. By sensitizing and raising awareness to the adoption of new sleeping hygiene strategies and healthier lifestyle options among the nursing population, patients will benefit from a higher quality healthcare.
Titel: |
O impacto do trabalho por turnos na profissão de enfermagem, nos níveis de ansiedade e depressão e a suarelação com a qualidade do sono
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Autor/in / Beteiligte Person: | Neto, Ana Beatriz Vargem da Costa ; Afonso, Pedro Manuel Marques ; Repositório da Universidade de Lisboa |
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Veröffentlichung: | 2020 |
Medientyp: | unknown |
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